Bubububulindo

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009



se quiser o telefone daquela guria, me mande um scrap em vão.
.

Café com água e pouco açúcar

sábado, 21 de fevereiro de 2009


Ela entrou no metrô e nem eram sete da manhã ainda.
Estava muito bem agasalhada, de toca, blusa, sua bolsa a tiracolo e seu nariz congestionado insistindo em escorrer, de forma que ela tinha que recorrer ao lenço de dois em dois minutos. O resfriado deixava ela rouca e com a voz anasalada, e isso tinha lá seu charme às quase sete da manhã.
O metrô estava quase vazio. Sentou num banco e foi à bolsa à procura do Ipod.
Tornou fechar o zíper, desistiu da idéia.


O uso indiscriminado de tocadores de música portáteis já se tornou um comportamento tão habitual quanto a manicure acender um filtro branco no ponto de ônibus. O Ipod, assim como todas as outras drogas lícitas é uma forma de fugir da realidade, e assim sendo, também uma forma de covardia. A incômoda realidade daquela manhã cinza era a distância entre ela e a próxima estação, ou melhor, 17 minutos até conseguir uma xícara de café bem quente e não muito doce.
Cléo pensou consigo que se o melhor da festa é esperar por ela, o pior do café é esperar por ele. A angústia de não poder beber porque está muito quente e há o risco de queimar a língua não se compara com a angústia de estar resfriada dentro de um metrô numa manhã cinza precisando de uma xícara incandescente.
O Ipod talvez a ajudasse a esquecer a cruzada que seria a espera até a próxima estação, esses três mil anos luz que separavam ela daquele líquido preto, amargo e providencial, mas ela preferiu sentir a dor. Até porque a fumaça do café da estação 167 é mais nociva às mulheres mal amanhecidas do que as drogas lícitas como o Ipod verde.

A moça do café enchia a xícara quando a dona de uma voz totalmente anasalada perguntou:
___ Você gosta de café com o que?
A balconista com o lenço na cabeça, que estava ali desde às cinco e meia curando a gripe alheia com o seu torrado e moído, pensou por um instante:
___ Com bolacha é legal.
___ Ahm. Eu gosto com água e açúcar. Pouco açúcar.
.

Vai morrer gente Capitão

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Essa semana eu tava no centro me esforçando pra não querer gastar o dinheiro que tinha na carteira, mas não deu. Os objetos de desejo e consumo eram dois dvd’s piratas: um do The Doors e outro do documentário Ônibus 174. Eu tava atrás desse último há um tempaço. O diretor dele é o José Padilha, o mesmo de Tropa de Elite. Só que o ‘Ônibus 174’ é de 2002, bem anterior ao Tropa de Elite, que por sua vez é um longa de ficção. Ficção que se pretende bem real, ou não nos fizeram acreditar à toa que os cavera andam enfiando cabo de vassoura no cu da mulecada por aí.


É foda achar legal esses filmes que mostram desgraça, mas a desgraça que esse tal Zé Padilha e o Sérgio Biachi fazem é diferente das fotos do Sebastião Salgado, por exemplo. Um filme sobre desgraça, sobre tragédia urbana, te faz refletir e considerar o quanto aquilo é real e de fato é uma mostra de como vivem certas pessoas. O Sebastião Salgado tira fotos, muito bem tiradas é verdade, da desgraça alheia, e quem consome essas fotos? Um livro do cara custa mais de cem reais. Quem é o burguês que paga mais de cem reais pra ver miséria e pensar ‘puxa, quanto talento’, ou ‘nossa, a pobreza tá matando gente’. Daí ele pendura na parede o retrato da miséria, como arte. E as dondocas que vão na casa dele acham ‘bárbaras’ as fotos daquele careca que só fotografa contra a luz. Bárbaras pelo talento ou pela desgraça? Eu particularmente acho a fotografia desse cara no mínimo um contra-senso, um paradoxo, uma inconclusão. Denúncia? Denunciar pra quem? Denunciar a pobreza pra classe média se ela vai pendurar na parede? Os chamados filmes brasileiros, que só mostram putaria, palavrão e tiro, tem um impacto diferente desse. E não me venham com esse papo derundê de que arte é tudo e tudo é arte.

Ao contrário da história daqueles homens de preto que invadiram o ruim de invadir morro do Dendê, Ônibus 174 trata de uma história real. Fato verídico e bem singular. Eu lembrava mais ou menos da história:
Dia 12 de junho de 2000, um ônibus é tomado no Rio de Janeiro em plena luz do dia, e olha que a luz do dia naquela cidade não é pouca. O sequestrador devia ter cheirado no mínimo uns três quilos de pó, daquele tipo A. A singularidade da parada toda é que o cara sequestrou um ônibus [?], não sabia bem o que queria de resgate, isso tudo no fim de tarde de uma avenida movimentada do Jardim Botânico. Isto é, o que não faltava era câmera de tv e apresentador com seus programas de plantão ao vivo dizendo a hora, o local e a razão.
Depois de tudo acontecido faz-se um documentário, de um sequestro que durou 4 horas e meia, e isso não é pouco material. Material da vida real meus jovens, como disse o Zeca Baleiro, Favela não é hotel, vida não é novela.
Pra mim que não lembrava como aquilo tinha terminado, assistir o documentário foi tenso. Um suspense desses angustiantes. E uma das coisas que deixaram a parada muito bem feita foi o resgate da história do Sandro do Nascimento, o sequestrador insano e mal resolvido. O cidadão foi morar na rua depois de ver a mãe ser esfaqueada, e o filme deixa bem claro como esse fator foi determinante nas merdas todas que ele foi fazendo depois disso. Daí aparecem uns sociólogos falando desses meninos de rua, que nós, ‘a sociedade’ [e a sociedade começa na sua testa] fazemos que não vemos, são guris invisíveis. E é bem verdade. Eles não tem personalidade, são todos ‘meninos de rua’, e não ‘meninos na rua’. A rua pariu todos eles.
E eis que um desses muleques, sobrevivente da chacina da Candelária, rompeu a clandestinidade e tomou a cena da pior forma possível. E, como vida não é Malhação, não foi nos estúdios do Projac.

Achei o documentário fodaço porque ele projeta esse debate que é universal. A desgraça pós moderna dos países desenvolvidos, a violência. Você pode dizer que é a fome, o desemprego, o sub-emprego, e mil coisas, e são de fato. É muito comum a gente ouvir críticas à sociedade capitalista, mas o que vem a ser o grande câncer da sociedade capitalista senão a concentração de renda, ? E a anestesia desse câncer senão a redistribuição dela? Claro que não é simples assim, mas se ese não é o fim da história é no mínimo o começo do fim. Talvez o que nos falte nesse século 21 é algum tipo de Robin Hood. E definitivamente ele não é o Obama.
Uma das coisas que o Tropa de Elite deixa de mais forte é o tamanho da idiotice que são as campanhas e caminhadas paz e amor pelo fim da violência. Como se as pessoas fossem personagens do Camilo Castelo Branco, fadadas definitivamente ao bem ou ao mal. Como se as pessoas por algum motivo, fosse lá praticar a violência gratuitamente. E aqui eu chegamos na outra ponta da questão, que trata a música Banditismo por uma questão de classe, do senhor Chico Science. Ninguém rouba por hobby meu amigo, a não ser aquele Rabino das gravatas.
Se eu for ficar falando de tudo isso escrevo um Novo Testamento de novo, então assistam o Ônibus 174. É documentário, e é do José Padilha, não confundam com ‘Última Parada 174’ que é ficção e é do Bruno Barreto. E durmam pensando no verso ‘Há um tempo atrás que eu via televisão’, que talvez ele tenha uma ironia jamais encontrada em outro momento da música brasileira pré ano 2000.

Há um tempo atrás se falava em bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução
Há um tempo atrás se falava em progresso
Há um tempo atrás que eu via televisão
[...]
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fudido
[...]
Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe

Obrigado viu

domingo, 8 de fevereiro de 2009

.

Sobre Obrigados eu e Obrigados você


Uma pergunta que eu sempre me fazia era se a gente agradecia dizendo obrigado ou obrigada. Daí que um dia a gente foi jogar bola lá no Cristino, e no barzinho depois do jogo eu disse pro carinha que deixou a calabresa, muito delicadamente: ‘Obrigada.’ Então o pai do meu amigo que levava a gente falou: ‘É obrigado Lemão! Cê num é moça’. Até que enfim alguém me disse como proceder. A partir daí eu entendi que meninos diziam obrigado. Até aí eu devia ter uns oito, nove anos.


Mais pra frente eu comecei a me perguntar porque tem pessoas que respondem Obrigado Eu e outras respondem Obrigado Você. Até hoje as pessoas me respondem dos dois jeitos. E é interessante a entonação das pessoas dizendo obrigado. Muitas dão um obrigado tão chocho que não precisava nem se dar o trabalho. É igualmente interessante como o sorriso das pessoas fazem par perfeitos com seus respectivos obrigados. Tem as pessoas que dão um sorrisão exagerado, outras que dão um sorrisinho simpático. Além do par obrigado-sorriso, às vezes vem alguma outra palavrinha que completa a sentença, como ‘Muito obrigado’, e o mais recorrente ‘Obrigado viu’. Agora veja como decifrar o que se esconde por trás das palavras desses hipocondríacos. Já tava com saudade de usar a análise do discurso.

Muito obrigado. Quando o cidadão diz só ‘muito obrigado’ ele só está sendo educado. Nesse caso não é necessário sorriso de nenhum tipo. Porém o uso do ‘muito’ dá licença pra ele não precisar sorrir, afinal ele está muito agradecido e isso basta.

Brigadão. É do tipo bem simpático geralmente usado por jovens senhoras. O sorriso que acompanha esse também é do tipo bem simpático. Ainda tem a derivação quando elas esticam o brigadãaaao, pra serem mais simpáticas com o rapaz da farmácia. Pode ou não vir completado com fofo, moço, fera, parcero.

Brigáaado. Esse é outra derivação do brigadão. A diferença é que ela não pretende olhar muito pra sua cara. Geralmente a jovem senhora nessa caso, pega a sacolinha vira e vai fazer o que tava fazendo antes daquela buzinadinha.

Obrigado viu. Esse é talvez o mais usado. Ele geralmente não acompanha sorriso e quer dizer ‘saiba que eu estou agradecido por você ter me trazido o que eu precisava.’

Agradecido. Esse era usadão na época dos tílburis do Machado de Assis, mas tem uns dinossauros que ainda gostam dele.

Valeu. Esse é bem moderninho, usado por pessoas pós 86.

Thanks. Esse eu nunca ouvi.

Daí tem os complementos que enriquecem os Obrigados, como por exemplo o ‘Cuidado com essa moto eim menino!’ da dona Irene. Aliás, uma vez ela perguntou meu nome, e depois disse com uma carinha toda orgulhosa: “Ah, agora eu não esqueço mais. Jorge era o nome do meu pai”. Depois eu fiquei pensando se um dia eu terei uma filha que um dia vai dizer, toda orgulhosa, que Jorge era o nome do seu pai.
Mas continuando o complementos dos Obrigados, tem um também que eu acho o maior de todos, que é quando a pessoa te fala ”Obrigado viu, bom trabalho”. Essa realmente é aquela que sente a tua dor. E é quando eu vou embora mais completo.
.