Ad jetivum

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008













Outra vez no meu falecido vaiplanetaa.blogspot.com eu escrevi sobre os adjetivos. Hoje já há algum tempo com o Capivaras eu ainda sou aquela metamorfose inerte: continuo acreditando piamente [de onde será que vem a palavra piamente?] que o adjetivo é a grande força dos textos dessa nossa vã filosofia.
Um cabra que pretenda escrever coisa com coisa deve fazer bom uso dos adjetivos, e principalmente uso de bons adjetivos. por exemplo, trocar a palavra Xuxa por 'Rainha dos baixinhos' é um clichê imperdoável. Melhor chamar ela de Loira potranca que abusa dos rapaizinhos'.
Fazer bom uso deles nãoé pouca coisa, a escolha do adjetivo certo é que determina se as suas abobrinhas valem a pena ou não.
Na ocasião do texto do falecido blog eu citei o exemplo do Camelo e do Vinicius de Morais. Do Camelo dei o exemplo de ‘braços castos’, que além de rimar, e isso é o menos importante, ainda tem um efeito sensorial e subjetivo que juntos soam absolutamente psicodélicos. Do Vinicius de Morais foi o caso de ‘pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza’. Eu acho um bocado interessante quando ele diz que o samba tem que ser ‘triste’ pra ser samba de verdade. O João Gilberto também diz ‘a tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim’. O samba é triste, e a tristeza é senhora. Não fossem os adjetivos a música brasileira seria menos, menos assiiim, ah sei lá, me fugiu a palavra agora.

Fiquei matutando nas palavras daquele samurai do post de ontem:
Navegando pelas páginas e páginas de blogueiros desocupados, li, vi e observei o português quase impecável, a coerência e a estética dos textos. Assim não dá.”
E realmente, às vezes eu acho meus textos quadradinhos assim, meio sem graça. Nada que se compare com o Bruno Medina, que anda com o estilo insuportável ultimamente. Concordem ou não comigo:
É intrigante pensar que as impressões guardadas por aquelas pessoas sobre mim estão tão distantes de corresponder à realidade que praticamente me transformam num estranho em potencial.”
Você entendeu alguma coisa? Então tome mais essa:
O prédio que o abrigava encontra-se em péssimas condições, abandonado devido a um processo de penhor que se arrasta na justiça e causa aperto no coração de todos que, como eu, lá estudaram.” Ah, que saco, que coisinha mais parnasiana. O porém é que Bruno Medina é um parnasiano comedido, não é um parnasiano rocambolesco, não é verdadeiramente fiel à causa maior dos malditos bilaquianos. Bom, queria falar mal da linguagem do Medina e já fiz isso, agora pro próximo ponto de pauta.

Hoje eu tava passando ali perto do Vitória Régia e leio num letreiro de restaurante onde deveria estar escrito o cardápio do dia: “Prato executivo”. Porra, isso muda tudo eim. Até eu que sou um muleque de recados de motocicleta gostaria de me fingir de granfino, levantar o dedo e pedir: ‘Um executivo, por favor’. Este é um exemplo de como os adjetivos também são mal-usados por pessoas que imaginam que o mundo simpatiza com os executivos. Olha o abismo que existe entra Prato feito e Prato executivo. O rapaz é estagiário do escritório, passa o dia passando fax e tirando Xerox, mas na hora do almoço ele se transforma no Executivo. Algum estudioso da semiótica deveria fazer um estudo mais amplo sobre o léxico do capitalismo contemporâneo.
Outra grande descoberta da publicidade e propaganda, como bem o Rafa já havia comentado é a tendência ‘Universitária’. O século 21 nasceu universitário. Contem comigo: é forró universitário, restaurante universitário, futebol universitário, prato universitário, o meu caderno desde o maternal é universitário, cadeira universitária, blábláblá universitário. Que obsessão é essa por ser universitário. Porque essa tara pelo adjetivo universitário?! Não é tão difícil assi pertencer à seleta casta dos universitários, dá uma chegadinha ali na Uninove, que você faz sua matricula pagando duzentos reais e parcelando por dez anos.

Porra, ce tem uma coisa que me intriga é o uso abusivo desses adjetivos pra botá o senso comum no bolso. Eu fico puto da vida, literalmente.
Mas o que será que deve ser ficar ‘puto da vida’, LITERALMENTE?

Cobrem da Karina um próximo post sobre o bom uso do ‘Literalmente’.
E arrumem um bom adjetivo pra esse postzinho aqui.

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Pra visitar o blog do Bruno Medina
Pra visitar o blog do Hissachi
Pra visitar o blog da karina
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4 comentários:

Hissashi H disse...

Puts.Eu estava.. não, não "estava", eu "tava", caramba.Eu tava lendo, mas nem prestei atenção.A música estava alta.Já volto...

Voltei (a escrita às vezes é atemporal).Sim, concordo com os adjetivos.Vou ter que reler td o que escrevi sob essa perspectiva adjetivadora aditivada...

Por enquanto não me opus ao seu modo de escrever.Um dos blogs a que me referia era o seu, sem querer puxar o saco.Já foi, já puxei.

Hissashi H disse...

CONTINUANDO ... (o que implica que você tenha que ler primeiro o comentário abaixo).

O Google ultimamente tem reprimido minha vontade de escrever.Ele corta comentários e scraps muito compridos.

Tenho um caso semelhante ao citado.Se até quem faz bolo pode ser chamado de designer de bolo (confeiteiro???), então, garotas de programa serão o quê?

Marina disse...

Georgio, eu não sei a origem da expressão "puto da vida", mas eu sei a origem de "zé fini", "fazer nas coxas", "é o fim da picada" e otras mas...

Karina disse...

"rocambolesco" é um adjetivo interessante.
lá em araraquara o negócio de "universitário" é tão forte que se você pedir um leite com café (ou café com leite, tanto faz, tanto fez) e pão na chapa você vai pedir um... "universitário", é claro!