A Universidade é um espaço privilegiado de produção de conhecimento. Através do ensino, da pesquisa e da extensão, ela tem o papel de produzir, socializar o conhecimento e articulá-lo a mecanismos de transformação social para além de seus muros.
É fenômeno conhecido daqueles que circulam pelos meios acadêmicos que tem predominado a lógica de um produtivismo toyotista na produção desse conhecimento. Cada vez mais os professores da UNESP e de outras universidades públicas buscam publicar um número maior de artigos e livros, fruto de seus estudos. Porém, isso não significa que eles estejam necessariamente interessados no avanço da ciência ou insanamente comprometidos com o trampolim de suas carreiras. Trata-se de uma questão de sobrevivência, afinal de contas a UNESP precisa estar a par dos renomados centros de pesquisa internacionais, custe o que custar. Embora nossa universidade esteja bastante distante do padrão e do contexto dos países com alto potencial científico, o produtivismo por aqui é buscado a todo custo: terrorismo por parte da burocracia acadêmica, rankings de produtividade de unidades e departamentos, programas de desenvolvimento institucional goela abaixo, etc.
Os alunos cumprem um papel fundamental nesse cenário, participando dos projetos de pesquisa, atrapalhando a vida de seus orientadores com tcc’s, turbinando seus lattes com mil e uma coisinhas sem importância, pleiteando as escassas bolsas de auxílio à pesquisa e à extensão, etc.
Interessante é que nem todos os alunos parecem atentar para o fato de que em uma universidade com sérios problemas estruturais, como a patológica falta de professores, tem se exigido uma produção de conhecimento em escala industrial, baseando-se em parâmetros quantitativos.
Quando surge uma paralisação de servidores pela melhoria estrutural e pelo reconhecimento da sua dimensão humana, a universidade entra em colapso e os professores doutores, com seus confortáveis 12% de reajuste, preferem não se solidarizar com a causa de quem ajuda a manter os campi em pé. Preferem tocar seus projetos de ensino, pesquisa e extensão aos trancos e barrancos, apesar dos movimentos de greve, afinal o lattes não pode parar.
Ao que parece, a UNESP caminha para a legitimação dessa lógica do homo lattes, mais do que para a construção de uma universidade comprometida com a produção e socialização de conhecimento com qualidade. O que se vê na prática é uma a corrida maluca dos rankings e dos currículos, tanto de professores como de alunos de pós e até mesmo de graduação. Não soará estranho se o próximo curso a ser criado na UNESP for Engenharia de Produção de Ciência e Conhecimento.
___________________________________________________
Escrito para O Grito, jornalim do ME da Unesp Bauru
.