Adolescência clichê

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Tom Jobim disse certa vez que gostava de dissertar longamente sobre coisas que desconhece. Eu sei o que ele quer dizer, porque fazer isso de fato é muito interessante. Porém, em matéria de Adolescência eu sou profundo conhecedor. E tendo 20 anos agora, me sinto no direito de falar com isenção sobre o tema.

O orkut é muito interessante nesse sentido. Você fica conhecendo qualé das várias tribos. Quando eu fiz meu perfil, era preciso receber um convite, tipo uma maçonaria mesmo: só entra pra turma se for indicado. Hoje o orkut banalizou, a galera se mostra na balada, mostrando o copo de smirnoff, até paga peitinho, faz cara de sécsy, faz hang loose e olha pra outro lado, o diabo. Quando recebi o convite, eu preenchi o formulário bonitinho, dizendo quem eu era, minhas intenções, se bebia, se gostava de animais de estimação ou preferia que eles ficassem no zoológico, essas coisas relevantes. No alto dos meus 15 anos eu tinha que pedir ajuda pra me relacionar com vocabulário em inglês do orkut, tipo scrap e join. E hoje o orkut ajuda a gente a comprender melhor a juventude transviada, até porque as pessoas abrem suas vidas nas redes sociais.

Ano passado, fiz um post falando que o Buddy Pokke era uma espécie de Second Life de pobre, onde as pessoas simulam interações (estranhas) com seus iguais. Depois de um tempo eu comecei a perceber que o orkut se tornava cada vez mais o joystick da vida das pessoas. Eu via várias delas colocando fotos no supermercado (!), se abraçando, fazendo biquinho, careta, todo tipo de bizarrisse adolescente. Eu me perguntava, no interior da minha solidão pedagógica, se essa juventude tinha algo na cabeça que de alguma maneira fizesse seus neurônios se relacionarem, ou se eram apenas Sinapses vãs. E concluia que não era o almeirão, o brócolis ou a chicória que levava essas crianças ao supermercado, mas a possibilidade de uma situação social na qual elas pudessem se fotografar, na mais adolescente intenção de gritar pro mundo o quão queridas elas eram: "aSpoKasDpsOk AqUeLe diA mEo, Só QuEm TaVa lÁ PrA SaBê, "6 saum foda, "Aê Léki, meo parcero ce é essensial já.

Pretendia eu comentar neste espaço o fenômeno arrepiante do Psy Rebolation, mas esse texto já está se mostrando mais catastrófico do que eu previa. Eu só gostaria de saber qual é o critério que se usa pra enxergar naquilo alguma razão de ser. Nada me tira da cabeça que o Latino tem influenciado essa garotada mais do que deveria e até mais do que ele próprio imagina, mesmo que a galerinha se mostre confessamente mais apaixonada pelo Neo Pop-Sertanejo da vida, que infesteiam os nicks do msn. Sério, se você está se preocupando com a gripe suína, esqueça. As duplas neo pop sertanejas se multiplicam numa velocidade muito maior que a do vírus.

Ah, os nicks de msn são outra expressão terrível da adolescência clichê. Salve a contribuição do Gordo Nerd pra configuração de uma análise mais criteriosa dessa escatológica expressão ideológica adolescente contemporânea.

Será que alguma onda adolescente algum dia teve um comportamento minimamente condizente com sua época? Se você também sente vergonha alheia pela adolescência alheia, aqui vai a minha contribuição companheiro:

Adolescência clichê
Seleção Natural no Orkut
AAH quando eu fizer 18 anos..
E eu, que fui emo?
vose me aseita gata??///
Meninas fodas.
Tem funk tocando no ônibus..
.

2 comentários:

Rafael Vieira disse...

bota clichê nisso e a tendência é piorar

Rafaela Guzik disse...

Muito bom o texto! eu tenho 16 anos e posso dizer qe ñ me indentifico com a maioria do pessoal da minha idade..
na época em que tinha Orkut, chorava quando via esse tipo de atitude na internet. Esqueceu de citar a hipocrisia colega.
É muito chato ver aqueles nossos colegas que não tem porra nenhuma na vida, mas por causa de um tênis adidas no pé ou um carro usado cheio de prestação se acham os tais. A falsidade que habita lá também devia ser comentada, pessoas que nem se olham na rua e banalizam o amor de uma forma assustadora nos depoimentos e recados... O pior de tudo mesmo são aqueles que fazem referencias a filmes e livros (nem viram ou leram) e que só eles e meia dúzia de gente no mundo conhece só para tentarem se iludir que ñ estão atolados na mediocridade..
Mesmo com a internet aí, a acessibilidade atual... a galera continua alienada pra caramba... é triste.. mas eu tenho uma esperança inabalável no ser humano e acredito no futuro dos jovens do nosso país... '' grande pátria desimportante em nenhum instante eu vou te trair" ahhaha pra entra no clima da pag dos comentarios!! cazuza (L)