Primas ricas

quinta-feira, 12 de março de 2009


A rima é um dos elementos da música ou da poesia ou da poesia da música que faz as palavras nos fins das frases rimarem umas com as outras. Sério. Se não houvesse rima não haveria, por exemplo, o rap, porque o rap é feito basicamente de rimas. Umas raras, outras nem tanto.
Esse breve artigo custeado pela Fapesp pretende tocar em alguns conceitos no que tange à rima. Mostre pra sua tia e pra sua prima, quem sabe assim ela não se anima. Parô


Eu quando tinha 15 anos não entendia porque as pessoas ouviam Cazuza, afinal ele cantava mal pra cassete e as músicas dele não rimavam nada. E nessa época eu ouvia rap demais. Porque tudo rimava. E nos meus 15 anos gostava mesmo de coisas como “eu me, sinto às vezes meio pá, inseguro, que nem um vira lata sem fé no futuro” e isso era muito mais legal que “Que só eu que podia, dentro da sua orelha fria dizer segredos de liquidificador”. ?

Hoje, eu continuo gostando de rap, mas numa medida bem menor. Por outro lado eu só continuo gostando do Cazuza justamente porque não rima. Porque ele não deixou de dizer as coisas que ele queria dizer por uma formalidade estética. Ás vezes eu pego birra das músicas do Engenheiros do Hawaii justamente por isso. As coisas rimam com uma perfeição muito grande, a ponto de você se questionar se o cara não abriu de alguma coisa que ele queria dizer, pra colocar uma palavra que rimando fizesse a música bem mais bonitinha. Por exemplo, “Quem ocupa o trono tem culpa, quem oculta o crime também. Quem duvida da vida tem culpa, quem evita a dúvida também tem” ou ”Mas afinal o que é rock and roll: os óculos do Jhon ou o olhar do Paul?”. Vai me dizer que isso não gruda no seu ouvido. E de tão redondinha você começa a duvidar dessas baladinhas descomplicadas e perfeitinhas. Mas o Humberto Gessinger sabe fazer coisas fodas sem rimar também como "Volta pra casa, me traz na bagagem. Tua viagem sou eu."

As bandas como o Cordel do Fogo Encantado por exemplo não precisam rimar, porque eles fazem certo sucesso justamente por serem a expressão de um movimento artístico muito particular. Ás vezes músicas inteiras dele são como manifestos, então, nenhum apego à essa coisinha de ficar rimandinho. O Nação Zumbi que é conhecido por misturar Maracatu com guitarras elétricas demasiadamente psicodélicas, já não é tão genuíno como o Cordel, porque aqueles misturam um monte de coisa, mas é até por isso que eles são tão originais. Porém não se apegam à rima como forma de fazer um som redondinho.

Talvez esteja parecendo que eu quero dizer que coisas que não rimam são melhores do que as que rimam, mas não é exatamente isso. O Marcelo Adnet muito bem notou que o Chico Buarque a certa altura escreveu “Aqui na terra tão jogando futebol. Tem muito samba, muito choro e rock'n roll”. Pois bem, rimar futebol com rock and roll ta tranqüilo. O Chico tem licença poética, dirão as menininhas. Tem nada. Cá pra nóis, riminha tosca essa. Agora se vocês querem ver como é a arte de se fazer rima, ouçam Ilmo. Sr. Ciro Monteiro. Tudo bem vai, então ele é dos Buarque e pode. Quem mais nesse mundo fez um Hino pro seu próprio time de futebol de botão?

Falando de autores, vejamos a obra do senhor Renato Russo. A música que eu mais tenho ouvido dele ultimamente é Eu sei, pelo seguinte motivo: ‘Feche a porta do seu quarto, porque se toca o telefone, pode ser alguém. Com quem você quer falar por horas e horas e horas?’
Quer dizer, nem rimou nada e ele mostrou pra gente a grande pergunta. Outra parte que eu acho um marco na música nacional é “A noite acabou. Talvez tenhamos que fugir, sem você”. Percebe a profundidade da mensagem né. Sem contar que o Renato Russo também é o herdeiro do Belchior nessa coisa de acreditar no poder jovem. Mas essa questão não me interessa tanto. Tão jóoooooooooooooveeeeens...
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