Achando que a banda tocava pra ela

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009




















Tudo bem que Téo sabia que quando ela ligava àquela hora era pra pedir pra ele comprar alguma coisa ou então estava se sentindo insegura, e mesmo assim ele não deixava de olhar aquele nome no celular com alguma expectativa.
Meio dia e meio, se ela não estava muito confiante, ligava e pedia indiretamente pra ele dizer aquelas coisas que ele sabia exatamente quais eram. As garotas do centro na hora do almoço ficam assim, elas se incomodam quando cismam que o caos urbano todo não é por causa delas. As meninas do centro na hora do almoço são como a moça feia que debruçou na janela, achando que a banda tocava pra ela. A diferença é que elas não são sempre feias.

__Ooooi
__Oi. Já saiu?
__Já. Faz um tempo. Tá tranqüilo hoje.
__E porque você não me ligou?
__E porque eu deveria?
__Ah, então por que eu te liguei?
__Só perguntas? Pra pedir pra eu te levar alguma coisa, ou então vai fazer docinho até eu te convencer que você é a balconista mais interessante do centro oeste paulista.
__Eu te odeio.

__Que que eu falo agora?
__Agora você pergunta se o Desafinados tá aqui, e eu te digo que ta lá na outra loja, como você sempre faz.
__Po, porque a loja da Getúlio sempre fica com os lançamentos fóda? E porque a sua loja sempre fica o resto?
__Tá, agora você vai começar a me ofender diretamente. Vamos desligar antes que eu comece a te odiar mais a cada minuto. E seje menos casmurro da próxima.
__ Seje não, Seja menos Dom Casmurro.
__Ce sabe que eu sei que é Seja, então vou ser menas analfabeta e usar a reforma ortográfica com você da próxima. E é só Casmurro, sem o Dom. Não quero lhe atribuir ares de fidalgo. Te dou filme, dou pipoca e guaraná. Só não lhe dou moça;
__Certo gracinha. Nenhum Rinosoro hoje? Uma Neosaldinazinha? Um puta que Eparil? Se for analgésico, só depois das sete
__Hoje não, to legal. Talvez eu estejA querendo me convencer de ser a balconista mais oblíqua e dissimulada do centro oeste paulista. Ó, chegou seu Al Pacino. Mas liga lá na Getúlio que o Al Pacino de lá deve vir com o Robert De Niro.
__Ce aí tiver Madagascar 2 eu to contente
__Madagascar?! Vai ter que remexer muito. E vai precisar de um analgésico.
__Pode ser
__A gente ta precisando de um recomendador de Almodóvar aqui depois das sete. Porque se depender de mim ele mofa lá
__Certo, eu passo aí pra convencer os tiozão de que as cores do Almodovar são melhores que o sangue do Tarantino. Cinema Nacional recheado de palavrão de lambuja
__Se colocar aquele dvd do Belchior eu nunca mais peço seus Rinosoros
__Hoje vamo de Oswaldo Montenegro, Bandolins
__Fechado. Te odeio, bandolim.

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1. esse blog desconhece as mudanças da rephorma ortographica
2. se eu não dou os créditos da foto a mayara me enche o saco
3. postado ao som de Bandolins, por causa de Os Aspones
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Mas já nasceu com 90 anos

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009


Certa vez, numa dessas barrigas gestantes, formava-se um rapaz. A família inteira acompanhou centímetro a centímetro aquela gestação e tava todo mundo muito ansioso para conhecer o tal cara de joelho.
Chegado o dia do parto, todo mundo na sala de espera e então se começou o serviço de parto: médicos, enfermeiras e toda aquela parafernália de bisturis, como se parir fosse uma atitude compulsória.
E eis que vinha o meninão. A família tinha ficado de ressaca dez anos desde o nascimento da sua irmã, a tal primogênita. E quando ele saiu da barriga da mãe, se deparou com toda aquela gente de branco, esperando um recém-chegado berrante, como é de costume. Mas eis que saiu bocejando, com cara de funcionário público:
___ Vamo lá gente. Podem continuar com os procedimentos de rotina. Limpar, pesar, me dá de mamar, vamo, vamo, quero ver isso aqui acontecer.

Ele na real não tinha tido aquela crise existencial antes da existência que todos os bebês invariavelmente têm no ventre da mãe. Nunca ao longo destes intermináveis 9 meses ele se perguntou se haveria mesmo vida após o parto. Aliás, achava aquela frase um clichêzaço imperdoável. Não tinha tido um minuto de expectativa otimista quanto ao que viria, fosse lá o que viesse.
O único sinal de otimismo que aquele ser teve foi desejar com todas as forças que lhe restavam que depois de ser parido houvesse um mundo e uma vida onde ele pudesse fazer alguma coisa além de boiar.
Se sentiu muito bem quando o colocaram na balança, limpo, e finalmente foi mamar. Não agüentava mais ser abastecido sem que pudesse gostar ou não. O útero definitivamente não era o melhor lugar do mundo, e que saco era ficar daquele jeito, como um contorcionista, sem platéia, sem aplauso e sem nenhum reconhecimento de sua existência torta.
Mamou, mamou e arrotou. Arrotou, achou graça, até soltou um ‘hehe’ satisfeito, e se desculpou com os presentes: seu pai, sua mãe e a enfermeira, que a essa altura não se surpreendia mais com as atitudes de um bebê que só queria um pós-natal mais divertido.
De noite no berçário, enquanto todos os bebês dormiam, ele refletia. Queria saber por que todos eles dormiam tanto e tão bem, já que ele não conseguia dar um cochilo. Resmungou sozinho o azar que era ser um recém-nascido insone.
De repente um dos seus vizinhos de berço acordou. E ele já previu, apocalíptico: ‘Ah nãaao!’. E então veio o escândalo: “Uaaaaá...” Algum tempo depois aparecia a mulher que sempre pegava os chorões da madrugada e levava para as suas respectivas tetas.
Ele ficava indignado, e não entendia como esses caras podiam ser tão covardes. Era só sentir fome no meio da noite e abriam o berro, não por protesto, mas por chantagem. Algum tempinho depois o chantagista voltava desmaiado em sono profundo. Indignado, ele cochichava pra si mesmo, ‘satisfeito agora né ôoo, palháço’.
Ele não. Mamava nos horários antes das refeições dos adultos, afinal não tinha motivos para não se consider um não-adulto. Sabia a hora que a enfermeira trazia as refeições da sua mãe, e antes disso em vez de armar o berro, soltava um incomodado “Ahn Han’, e já via ela dizer pra enfermeira: ‘Pega o meu pra mim’?
E assistia, tedioso, a enfermeira vir buscá-lo com aquela cara de Titati bitati, super radiante. Dizia pra si mesmo, com aquela personalidade centenária:
___ Sáco.
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E num é que é

terça-feira, 6 de janeiro de 2009


Cliquem e reconheçam-se, crianças nerds
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Os meus vinte anos

domingo, 4 de janeiro de 2009














A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela

Arrancou-me do peito e tem mais

Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos,
O meu coração.

E além de tudo,
Me deixou mudo
Um violão.
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