A Ditadura da felicidade

domingo, 23 de novembro de 2008


Em determinada altura do filme Cronicamente Inviável, do César Bianchi, o sujeito, que é o narrador e eu-lírico ao mesmo tempo, diz que o Carnaval é a Ditadura da felicidade. Você cai no meio da galera e se não for feliz pode ser severamente censurado.
Num outro poema sei lá de quem, lido pelo Lázaro Ramos, tem uma parte que diz: “E o Carnaval, essa oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data marcada.” Essa tese também se aplica ao Interunesp. Mas não é do Carnaval nem do Interunesp que eu quero falar, é do fim de semana.

O fim de semana é também uma oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data marcada.

Não sei quem foi que disse a grande verdade que, sempre que uma pessoa vem te cumprimentar na segunda-feira e te pergunta: “E o final de semana?!”, na verdade ela quer é contar o quão divertido foi o findi dela. Quantas cervejas ela tomou, quem vomitou onde, a que horas foi dormir e a que horas ela acordou de ressaca. E a melhor maneira de se começar a dizer tudo isso é te perguntando com pouco interesse como foi o seu final de semana. Não se engane. A melhor resposta pra tal pergunta é “a mesma merda do seu”, dessa maneira você tolhe qualquer tentativa do fanfarrão de se promover. Por que essa tara por fim de semana?

No Orkut tem algumas comunidades que traduzem bem esse sentimento dom casmurro ranzinza: Tudo tende ao tédio, Sem ritmo pra amigos agitados, Odeio alto astral, Jovens idosos, etc..

Eu trabalho e estudo a semana inteira, e como todos os outros quase 200 milhões de brasileiros também espero pelo final da semana como pelo Messias que irá me redimir. Mas não tenho essa expectativa nem esse compromisso de ser feliz com hora marcada. Meus fins de semana são geralmente iguais. Não tenho problema com isso. Sem pose.

Essa semana eu estava na rua e tem banners de uma tal Óticas Diniz pela cidade inteira, em cada sinaleiro. Tem também um carro de som zanzando pelo centro com o seguinte slogan: “Vem ser feliz na Diniz!”.

Não tive dúvida. Encostei a moto e entrei na loja. Logo fui abordado por um vendedor de camisa pólo e topete.

__ Pois não, posso ajudar?!
__ Pode sim, eu quero ser feliz.
__ Oi?!
__ Vim ser feliz. Não é aqui?
__ Ah sim! E você tem miopia, astigmatismo, estrabismo ou hipermetropia?
__ Isso é algum ensaio sobre a cegueira?
__ É quase isso. Sabe, é impossível ser feliz enxergando o mundo com muita precisão.

Cansei daquela filosofia de ótica, montei na moto e fui embora.
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Defenda a sua palavra.
A vida não vale nada,
Se você não tem uma boa história pra contar.

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1 comentários:

Anônimo disse...

meus finais de semana... é muito dificil decidir o que fazer, é mais facil fazer nada, ou bem pouco...
e realmente, não da pra ser feliz vendo tudo. Mas o pior cego pra mim é aquele que se negar a ver o que esta diante dos olhos, se fazer de cego, é ser fraco.
beijo e um bom final de semana, assim curtindo, o vento, o sol, da janela pelo menos, fazendo os trabalhos interminaveis do final do semestre ;)