
Esses dias, numa aula de sábado, me veio uma dessas crises que me foram muito peculiares no segundo colegial [2005]. Pra quem não me conheceu em especial ocasião, eu explico.
Tinha eu nos meus 16 anos uma tendência tipicamente adolescente que tendia justamente em negar a adolescência: a minha, e principalmente a adolescência dos outros. [Lembrem-se que o pior dos adolescentes tem mais de trinta anos, canta numa banda e é conhecido pela alcunha de Chorão.]
Como me fazia sofrer a futilidade e a superficialidade da juventude.
Eu ouvia o Cazuza dizer: “eu que tinha apenas 17 anos, baixava a cabeça pra tudo. Não era assim que as coisas aconteciam, mas era assim que eu via tudo acontecer”, e achava que eu não era como ele, claro. Não, eu não baixava a cabeça pra tudo, evidente. Nem via tudo acontecer ‘assim’. Mas sabia, ao mesmo tempo, que essa minha constatação não era verdadeira, isto é, eu queria acreditar que não era ingênuo como o Cazuza aos 17, mas sabia no fundo que eu também via ‘tudo acontecer assim’ sim. Eu reconhecia o adolescente em mim. Até na minha atitude descolada, na minha pretensão besta de autonomia, eu me sabia ingênuo. Que primor de ingenuidade. Enfim.
Era uma escola particular e a maioria dos alunos vinha de uma posição social mais confortável. Logo eles tinham certa tendência em se futilizar mais que os outros da escola pública, de onde eu tinha vindo. Isso é um ponto.
Mas o principal fator dessa minha descrença no futuro da humanidade foi o fato de ouvir incessante e incansavelmente a voz e as músicas do baiano desvairado Raul Seixas.
Sim, e Raul Seixas pra mim era deus. Ele tinha tanta coisa pra dizer, pra contestar e que pecado era gostar de CPM 22, Detonautas, sertanejo e música eletrônica quando algum dia na história da música brasileira existiu um barbudo desvairado por nome de Raul. Daí a minha implicância com meus semelhantes.
Eu era, como já puderam notar, o senhor enxaqueca numa escola de gente super alto-astral. Um ranzinza de marca maior [também não foi tanto assim, eu tinha meus momentos]. E é claro, nada é tão simples de se curar. Ainda carrego um pouco daquelas obsessões, mesmo que em menor medida. Mas eu dizia que me veio uma dessas crises esses dias atrás, e eis o que eu queria dizer desde o começo.
Essa minha ira passageira se deu diante da constatação de como as pessoas podem ser fúteis e desprezíveis sendo descoladas, se utilizando de um cigarro aceso na ponta dos dedos e de óculos escuros num sábado de manhã. [Esses canalhas quando entram no msn não se apresentam como tal. Estão sempre ‘Ausente’, ‘Ocupado’. Mentira mano. Ninguém é tão ocupado, popular e requisitado assim]
O sábado de manhã é o São Paulo Fashion Week dos óculos escuros. A classe universitária descobriu o quão charmoso é a olheira e a cara de sono por trás de um Ray Ban, importado ou não, e um cigarro aceso na mão [esquerda] completa impecavelmente esse figurino. Notem vocês a cara de holywoodiano que alguns faaquianos fazem ao dar um trago, depois cruzando a perna e apoiando o braço em cima dela, deixam o catingoso exalando a fumaça cinematográfica.
Quase um Almodóvar. Quase um filme num close pro fim.
O que define a adolescência é que, nela existem momentos em que você está feliz, mas nunca sabe. Quando a adolescência passa, você sabe exatamente quais são esses momentos. Essa semana eu ouvi de uma velhinha: “Eu era feliz. E sabiiiiia!”
Por hora, não quero mais me rebelar. Talvez eu nunca mais diga o que realmente penso, como naqueles bons tempos idos.
Acatando influências efêmeras e perpétuas
3 comentários:
Eu me senti um tanto quanto atingida.
Alfinetadas do Jorge Expert.
Mas tudo bem... eu já prometi mudar o estado do msn, não uso mais óculos escuros de sábado de manhã e resolvi assumir os olhos roxos.
Tô perdoada?
"O que será que o Jorge pensa a meu respeito...?"
Rapaz, a minha diversão predileta é dar umas safanões nos cults-sou-blasè-até-na-fila-da-rodoviária, tu não és o único.
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