O estado da arte

quarta-feira, 31 de março de 2010




Foi no meio do ano passado que eu trombei o Carneiro num show do Sesc, ele me disse que estava estudando com o Saulo e me chamou pra ir também. Eu pensei com meus botões que mesmo que fosse só assistir a discussão dos caras já seria grande coisa, afinal eles já estão no mestrado. Sei que papo vai, papo vem, eu acabei conhecendo autores como Ivo Tonet e o Sérgio Lessa, e no final das contas até meu objeto de TCC mudou. Mas mudou definitivamente pra melhor, de maneira que conhecer o Ivo e o Lessa foi definitivo pra mim. Depois o Carneiro me emprestou dois conjuntos de dvd's, dez de um curso que o Zé Paulo Netto deu no Recife e outros nove de um curso que o Sérgio Lessa deu em Natal.
O vídeo aí em cima é um trecho do curso do Lessa e trata da ontologia, Luckács, reprodução social e nesse trecho ele fala da função social da arte: a catarse estética. O que me chama mais atenção é que ele é um dos marxistas mais considerados no Brasil hoje, dos mais rigorosos e está longe de ser dogmático, politiquento ou xiita. O cara tem alma de educador, e haja conteúdo que esse cara tem pra passar. O vídeo é uma mostra da sensibilidade dele enquanto professor da academia, esse pessoal que geralmente se mostra como um bando de gente comprometida com o umbigo. A definição dele do que seja a catarse estética é simplismente brilhante, de modo que eu quis recortar esse trecho e socializar com a humanidade.
Eu lembro que no primeiro semestre do terceiro ano minha turma teve aula com o Derisso, um professor de história, que ao longo das aulas foi mostrando sua faceta materialistinha. Um dia a gente marcou uma orientação a respeito do trabalho que meu grupo ia apresentar, e depois a gente indo pra cantina eu dizia ao Derisso que "o marxista é antes de tudo um chato". "Porra, eu sou chato?!", de fato o Derisso não era mas era assim que eu via a maioria dos professores comuninhas. O Sérgio Lessa apareceu pra provar definitivamente que eu estava errado. Longe de querer fazer do cara um ícone, mas realmente me espanta a postura de educador que ele tem. Geralmente quando você discorda de alguém que se intitula marxista ele tende em ver em você um mensageiro da ordem neoliberal. O maniqueísmo corre adoidado entre esse tipo de gente, como se defender o socialismo te conferisse plenos poderes. É isso que predomina na universidade: politização vulgar da ciência, eu chamaria de duartinização. Definitivamente não é o caso do Lessa nem do Zé Paulo Netto. A leitura ontológica desses caras permite a eles ter uma abordagem que articula ciência, filosofia, política e educação de maneira exemplar.
Então assistam ao vídeo e descubram que raios é uma catarse estética de um ponto de vista ontológico, e caso queiram saber mais a respeito se matriculem na UFAL que é mais legal.
Meus agradecimentos sinceros ao Carneiro que me emprestou os dvd's, me apresentou esse tipo de cara e pelas horas de prosa socialista que tanto me agregaram, e à Alice (a Child) que com todo seu potencial jornalístico editou o vídeo pra que ele pudesse ser colocado no Youtube.
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Mas calma minha gente que o leão é sem dente!

sábado, 6 de março de 2010


Foi esses dias atrás, no show do Funk como le gusta, que a moça do SESC disse que o Jorge Ben vinha pra esses lados dia 25 de março. Auei, até que enfim Bauru pode se dar ao luxo de receber um show tunder, longe dos pseudo-universitários que imperam nas W-Dolce da vida, e os showzinho de tiozão-burguês de muitos reais do Alameda. Mas eu quero tratar é da genialidade do Jorge pras coisas improváveis.

E tem um som em especial que é deveras demais, não só pelo sambalanço como pela temática, é O circo chegou. Um tempo atrás eu andava muito interessado na Mulher Barbada, da Adriana Calcanhoto. Acho que fiquei uns 15 dias ouvindo aquilo, me colocando diante da esfinge O que será que tem a perder a mulher barbada?! Porra, como assim, nunca ninguém parou pra sentir a dor da mulher barbada. Puta brisa, a mulher barbada é reconhecida pelo que tem de mais bizarro.


De maneira que isso só afirmava a admiração que eu tinha pela cultura alternativa do circo, diante da unanimidade que hoje é a cultura pop. Mas existem algumas diferenças do circo do Jorge Ben e o da Adriana. Então vamos aos fatos. O circo do Fio Maravilha tem um macaco cientista (!), um urubu que toca flauta e violão, uma orquestra de sapo, a cabra ciclista, a girafa seresteira, um anão gigante, a mulher barbada, o homem avestruz e o homem foguete. Sério, eu não consigo ouvir isso sem imaginar pateticamente um macaco cientista de fato. Invariavelmente vem à minha cabeça a figura de um primata com jaleco e óculos na ponta do nariz (que nariz?), manipulando tubos de ensaio. E quando menos você espera, suspense, o leão foge da jaula. Mas calma minha gente que o leão é sem dente! Er, vamos ao circo da Calcanhoto.

No circo dos dissabores da mulher barbada constam: a trapezista, o domador e o palhaço. Mas não é a fartura de atrações que torna esse picadeiro especial. É a dor da mulher barbada e as eternas incógnitas que ela enfia como espadas em nossa goela abaixo. Afinal, com o que será que sonha a mulher barbada? Será que em sonho ela salta como a trapezista? E sonhando se arrisca como o domador? Ou só tira a máscara como o palhaço? E o que será que tem a perder a mulher barbada?!

O circo da Calcanhoto e do Benjor são bem diferentes, mas são igualmente geniais. Porém o Benjor tem a vantagem e o suing de rimar Deise com raio-leizi. A grande cartomante, a internacional Deise, a mulher do homem que come raio-laser!
O circo chegou, dia 25 vamos todos até lá, o palhaço que é, é ladrão de mulhé!
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