Sobre como ser um marxista xiita

sábado, 20 de junho de 2009














O marxismo enquanto abordagem do conhecimento é no mínimo muito interessante. Não é à toa que a teoria do Karl Marx ficou conhecida como socialismo científico, afinal ela explica muitos fenômenos de um ponto de vista muito sólido: a base material. Quem há de negar que o dinheiro domina o mundo e as relações humanas?
O fato é que essa solidez dá um conforto tal para os que se assumem marxistas que eles tendem a se tornar ortodoxos, radicais, chatos mesmo. E essa abordagem radicalista, é bastante problemática para eles, pois compromete o caráter científico daquele barba de outrora. Sim senhores, porque o Marques nunca escondeu que ele defendia luta de classes no sentido armado da palavra, afinal, palavras não vão tirar a burguesia do poder. Porém, quem leva o cara ao pé da letra para toda e qualquer problemática da sociedade atual, pode se configurar totalmente anti-científico, totalmente utópico e lunático: trata-se do já famoso marxista xiita. Então vamos fazer algumas considerações sobre essa espécie cada vez mais comum nos corredores, nas cantinas, nas praças, nas filas e nas mesas redondas que nunca o são.

Primeira lei do marxista xiita: Tome a exploração capitalista do empregado pelo patrão como o maior problema da nossa sociedade. Portanto, quando alguém vier com conversa sobre esse ou aquele assunto, você como bom marxista xiita faça alguma relação disso com luta de classes. Não deixe por menos, diga à pessoa que a discussão dela não é importante, a sua que é.

Segunda lei do marxista xiita: Negue o ponto de vista do que você está criticando. Diga que se trata de mais uma tentativa burguesa de se perpetuar na elite dominante da sociedade. Insinue que a pessoa não consegue enxergar as contradições de classe, se puder insinue que ela é alienada. Proponha uma abordagem nova, baseada em Marx, Lênin, Trotski, e Gramsci, necessariamente nessa ordem. Insista que só a sua proposta é verdadeiramente revolucionária e que a outra abordagem não serviu pra nada, não deu nenhuma contribuição, foi completa e definitivamente um desserviço para a sociedade. Afinal, só o marxista xiita é suficientemente esclarecido para poder levar em consideração todos os determinantes do fenômeno, já que o conhecimento dele é necessariamente superior às outras leituras, tendenciosamente neoliberais.

Terceira lei do marxista xiita: Quando você se sentir inseguro em uma discussão, não se preocupe: o marxismo xiita está assentado sobre a verdade. Lembre-se que o proletariado está organizado e comprometido com a luta de classes, portanto, não há motivos para pânico. Se sentir que a coisa está escapando do seu alcance, volte à Idade Média, à Revolução Industrial e faça uma defesa árdua da socialização dos meios de produção. Mesmo que a discussão não tenha muito a ver com isso, aí está a gênese de todos os problemas do mundo.

Quarta lei do marxista xiita: Jamais seja conivente com o elogio à qualquer identidade cultural, afinal ela é uma fonte absurda de alienação. Qualquer tipo de identidade, seja de raça, de cultura, de região, de gênero, é alienado, pois não demonstra o recorte de classe. Nunca se esqueça que antes de ser mulher, nordestino, negro, judeu, jogador de baralho, ou líder dos lobinhos você é ou dominante ou dominado. Não existe identidade senão a identidade de classe. O resto é alienação.

Quinta lei do marxista xiita: Fazer cara de mau, de revoltado, falar em tom de voz mais alto, como se você achasse tudo muito absurdo é mais do que necessário para defender a sua dignidade de marxista xiita. Lembre-se que quem não é radical como você, não faz cara de mal e tenta uma outra abordagem que não a sua, que está à serviço da verdade, é no máximo um reformistazinho pequeno-burguês.

Sexta lei do marxista xiita: A vertente xiita dentro do pensamento de esquerda é a maior expressão da verdade marxiana. Lembre-se que a esquerda é grande, e tem muito reformista social-democrata por aí. É seu dever defender a supremacia do verdadeiro marxismo, pra que ele não seja infectado pelos marxistas sangue-ruins. Sim, o marxista xiita tem o sangue azul, e é o único clã verdadeiro. Não aceite nenhum tipo de discurso daqueles que se pretendam esquerdistas sem defender a letra da lei de Marx a ferro e fogo. Muito cuidado, portanto com essa coisa de 'sonho freireano', tolerância, esperança de uma sociedade mais humanizada. A vida é dura.
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O poder é afrodisíaco

domingo, 14 de junho de 2009


Tava passando no Cine Clube aquele filme Feliz Natal, do Selton Mello. Digo filme do Selton Mello porque dessa vez ele é o Diretor do filme, e não o ator engraçado de sempre. Mas não é só isso. É o primeiro trabalho como diretor de um dos maiores atores brasileiros, um dos menos clichês, um dos mais inovadores, mas de fato eu digo que o filme é dele porque ele quis passar essa impressão, de dono do filme.


"Meu trabalho, "eu fiz assim, "quando eu pensei. Tanto que você estava acostumado com as capas do filmes do Almodóvar, que vem escrito Um filme de Pedro Almodóvar. Pois bem, Na capa de Feliz Natal também está escrito Um filme de Selton Mello.
Depois de ver o filme eu me senti meio culpado, porque de fato ele conseguiu me atingir em alguns sentidos, com essa coisa da família. Daí minha irmã tava aqui e queria alugar um filme. Eu disse que já tinha alugado, mas ela queria ver Austrália, porque falaram pra ela que era bom. Ela que ia pagar mesmo, paciência. Era a minha chance de valorizar esses momentos “família” que o filme tinha me cutucado.
Lá na locadora perguntei pro cara se tinha o Chega de saudade. Ele disse:
__ Tem, ó ele ali.
__ Não, não é Chega de saudade, é outra coisa que tem a ver com bossa nova, tem o Selton Mello e tal.
__ Os Desafinados?
__ Isso!
__ Ta na Duque.
__ Puts
__ Já viu o Feliz Natal?
__ Já, vi ontem.
__ Cê gostou?
__ Gostei, muito foda.
__ Foi corajoso né, primeiro trabalho dele. Achei ele meio mala nos extras, fazendo citações... Depois que eu vi os extras eu desgostei do filme. Ah, muito mala.
__ Hehe. Então, eu achei muito bem feito, tem umas críticas da hora. A família zuada, tem todo um pano de fundo...

Essas conversas com balconista de locadora não levam a lugar nenhum. Geralmente você fica tentando dar a entender que você entende do que supostamente ele deveria entender. A não ser com a ‘Suzana’ da outra locadora, com ela eu sempre concordo, mas isso não é pauta de hoje.
Daí que eu fiquei com a pulga atrás da orelha, afinal de contas eu só tinha ido na locadora buscar um filme família por causa do Feliz Natal. Se ele não tivesse me acusado de algumas coisas eu não teria aceitado sair debaixo do meu edredon pra bancar o meninão que vai buscar Marley e Eu (filme interrogação pra mim, não acontece nada) pra assistir com a turma aqui de casa. Até porque não é todo dia que a turma aqui de casa é a turma daqui ou tá aqui em casa.
Vendo os extras eu cheguei à conclusão que o Selton Mello, com seu primeiro filme tá se achando o dono do seu primeiro filme.
Pô, quem há de negar que ele é um grito solitário no meio de milhares de atores iguais, super lugar comum. O cara é a salvação da lavoura (não a Arcaica, hahá). Em todos os filmes que ele fez, deu uma pitada da personalidade dele. Ele tem um vocabulário que geralmente deixa uma marca definitiva nos filmes, vide O auto da compadecida, Os aspones, Árido movie, O CHEIRO DO RALO, etc
E Feliz Natal conseguiu ser um filme foda, mesmo sendo o primeiro. Mas porque essa necessidade de rotular o filme como o Primeiro Filme de Selton Mello? Pra que colocar na capa do dvd ‘Um filme de Selton Mello’?! É um filme ótimo, a equipe foi o cara que montou, escolheu os atores, acho que o roteiro é dele também, mas isso é de praxe nos diretores.
É fato que, como ele é o queridinho do Brasil, esse emblema dê um salto na locação dos filmes, mas querer promover o filme por ser um filme de fulano de tal, é meio que narcisismo almodovariano. O Filme é foda, demais. Com certeza o primeiro de muitos que serão muito bons, pra salvar a gente de coisas menos bacanas como A mulher invisível. Mas é preciso desmistificar o fenômeno narcisista dos Diretores.
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zeros à direita

quarta-feira, 10 de junho de 2009







[não que tietar seja do nosso feitio]


"É com esse olhar que nós temos que superar a relativização dos conteúdos"
Duarte, Newton. 2009, sala 10
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